Ela não usava esparadrapo. A ferida estava aberta, com sangue e pus, mas ela recusava-se a tapar. Não. Sararia com o tempo e com o vento: foi para o andar mais alto da casa e abriu a maior janela, sentou-se e deixou lá o joelho ao vento. Nua e despida de todos os pudores. Nua na janela de casa, como a donzela na mais alta torre, ela o encontrou. Ele trazia na boca um vermelho sangue de vinho barato - primeiro estranhou o batom do rapaz, mas depois percebeu que de fato era vinho. Três gritos de felicidade foram dados e duas agonias foram exorcizadas numa única aleluia. Ele pediu as tranças e ela lhe deu o coração. Perguntou se tinha um cigarro, ela negou e cantou. Ele tombava, ela sorria. Ele bebeu outro gole e jogou a garrafa nos paralelepípedos. Nesse momento a fada azul saiu da ferida e correu ladeira abaixo. Não sem antes dar-lhe asas - vermelhas - para o beijo da anunciação.
Há 11 anos
Um comentário:
Muito bom, pô!
Postar um comentário